Professora e especialista Mariana Lorenzin reflete sobre as possibilidades do trabalho por projetos com a integração de conhecimentos de Ciências e Matemática em sala de aula
Articular os conhecimentos das Ciências e Matemática às Tecnologias e à Engenharia: essa é a proposta da abordagem STEM (em inglês, Science, Technology, Engineering and Mathematics). Trata-se de uma tendência inovadora para o ensino e aprendizagem dessas áreas. Com origem nos Estados Unidos, foi adotada em vários países, entre eles o Brasil, o STEM parte de um desafio ou problema real em busca de múltiplas soluções ou respostas construídas de forma colaborativa entre estudantes e professores.
Para ajudar os docentes das áreas de Ciências da Natureza e da Matemática a compreender os princípios dessa abordagem e levá-la a suas práticas em sala de aula, o Respostas para o Amanhã lança agora o Infográfico STEM. Elaborado com a assessoria da professora Mariana Lorenzin, especialista em STEM, este material interativo apresenta de forma clara e sistemática conceitos e práticas relacionadas ao ensino por projetos.
A seguir, leia a entrevista com a professora, bióloga e especialista em teorias de ensino-aprendizagem e EAD, Mariana Lorenzin.
RESPOSTAS PARA O AMANHÃ: Quais os pontos em comum entre a abordagem STEM e a
competência 2 da BNCC, relacionada ao ensino e aprendizagem das Ciências da
Natureza?
Competência específica 2: “Construir e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar decisões éticas e responsáveis” (MEC, BNCC, 2018).
Mariana Lorenzin: O STEM como abordagem para o
ensino de Ciências, ao propor a observação do contexto para identificar
problemas reais, permite desenvolver o olhar
crítico e atento sobre a realidade para interpretar os fatos e fenômenos
relacionados a diversas questões da vida, do planeta e, até mesmo do
universo.
Com esse olhar e a capacidade de
construir ou utilizar as interpretações de forma crítica, é
possível elaborar argumentos para desenvolver pesquisas e soluções com
base em propostas éticas e responsáveis.
Dessa forma, a abordagem STEM, assim como a competência 2 de
CN da BNCC, busca decisões éticas e responsáveis para
intervenção na realidade com base em argumentos consistentes, com base em uma
leitura ampla e fundamentada sobre o contexto.
RPA: Uma das características da abordagem STEM é a multiplicidade de caminhos para se encontrar soluções a desafios reais. Quais são as principais condições que o/a professor/a deve observar no trabalho com os estudantes para garantir essa diversidade nos modos de pensar e de buscar respostas a um problema prático?
Mariana Lorenzin:
Considerando que são múltiplas as possibilidades de caminhos que podem ser
percorridos na construção de soluções aos desafios da realidade,
a escuta às diferentes ideias dos estudantes e colegas parceiros é ponto
inicial e fundamental nessa trajetória.
O levantamento e a proposição de ideias de forma
livre durante o trabalho em grupo devem ser valorizados e objetos de mediação
para se chegar a consensos que atendam à diversidade de repertórios e permitam
traçar rotas em prol de uma meta comum.
É importante ressaltar que não se
trata de rotas estáticas. Durante o
desenvolvimento do projeto, estas devem ser revistas, avaliadas e rediscutidas antes da
tomada de decisão das próximas etapas e/ou correção e ajustes no
percurso.
É uma verdadeira
transformação do papel do professor, que deixa de ser o transmissor da
informação para atuar como mediador de um processo,
garantindo o espaço para a construção do conhecimento, a
reflexão coletiva e a aprendizagem com sentido no contexto.
RPA: Na apresentação do infográfico, afirma-se: "é preciso criar ambientes e espaços nas escolas para promover o encontro entre pessoas, para que as boas ideias floresçam e se tornem motores da inovação!". Que ações práticas você considera importante ser observadas pelos gestores públicos e escolares nesse sentido?
Mariana Lorenzin: O
encontro entre as pessoas é a chave para as boas ideias! No contexto da escola,
reuniões entre gestores e professores, atividades de formação docente sobre temas que emergem
na sala de aula podem ser pontos de encontro para a
inovação.
É
importante estabelecer horários de encontros sistemáticos entre as pessoas,
superando os assuntos de organização da rotina escolar para se tornarem
oportunidades de discussão sobre práticas e ideias.
Assistência a vídeos, palestras, idas a museus,
leitura e discussão coletiva de artigos, relatos de experiência, entre outros,
são também recursos que podem ser o ponto de partida para a
criação compartilhada.
Assim, do
ponto de vista da gestão, é importante garantir o espaço para o
encontro entre pessoas e propor, por meio de diversas estratégias, temas para a
discussão. A partir daí, em um ambiente de confiança e engajamento,
basta deixar as ideias surgirem!
RPA: Como o texto do infográfico destaca, no STEM a integração entre disciplinas do conhecimento (inter e transdisciplinaridade) deve ser intencional. Como os professores que desejam trabalhar por projetos podem garantir essa intencionalidade com os estudantes?
Mariana Lorenzin: A intencionalidade das
propostas em que a inter e a transdisciplinaridade dão o tom é garantida com o
planejamento e, principalmente, o
replanejamento constante e coletivo entre os professores e os estudantes envolvidos no projeto em que
trabalham.Em uma lógica disciplinar, as
contribuições das disciplinas são colocadas para atender a um objetivo
comum. Nesse sentido, é preciso compreender as possibilidades e os limites de cada
área e planejar como cada uma delas, com suas especificidades e perspectivas,
irá contribuir. No trabalho
transdisciplinar, é o projeto que solicita o conhecimento das diferentes
áreas. Estas passam a, conjuntamente e sem barreiras, atuar para atender à demanda
apresentada.
Dessa forma, uma vez que as
relações construídas entre as disciplinas não ocorrem ao acaso,
é preciso perceber as contribuições trazidas pelos múltiplos
olhares e a abrangência de diversos temas para planejar, estudar, discutir e criar
junto com o outro, superando as barreiras entre disciplinas e áreas.
RPA: Em sua opinião, além do estímulo trazido pela premiação, que outras contribuições o Prêmio Respostas para o Amanhã traz ao ensino e aprendizagem das ciências e da matemática?
Mariana Lorenzin: O
Respostas para o Amanhã tem um
papel social muito grande por contribuir para a transformação do ensino de
Ciências e Matemática nas escolas, possibilitando ao professor buscar novas
formas de trabalhar os conceitos em sala de aula, além de mobilizar
competências e habilidades dos estudantes durante o desenvolvimento dos projetos. Por
meio dessa transformação no ensino e no professor, o impacto sobre os
estudantes é ainda maior, uma vez que estes também se transformam. Ao ampliar
o olhar para as Ciências, com a construção do pensamento
científico de modo crítico e de forma aplicada, o percurso traçado pelo
prêmio não só amplia a visão de mundo e mostra possibilidades de
intervenção no contexto, como pode inspirar os caminhos do futuro.
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