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Ciência de e para todos(as): conhecimento se constrói com diversidade

Ciência de e para todos(as): conhecimento se constrói com diversidade

Flávia Siqueira
11/10/2022
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Webinar do programa Solve for Tomorrow, da Samsung, abordou a importância da diversidade para a ciência, tecnologia e educação; saiba como foi o encontro virtual

O primeiro passo para fazer ciência é olhar para o mundo com curiosidade. Como fazem as crianças ao perguntar por que o céu é azul ou por que as folhas são verdes. “A ciência está em tudo”, diz a professora Sonia Guimarães (foto), primeira mulher negra doutora em Física no Brasil e a primeira docente negra no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ela complementa: “fazer ciência”, especialmente na escola, é também descomplicar, compartilhar o conhecimento e garantir que as carreiras científicas sejam uma possibilidade para todas e todos.

Sonia foi a convidada do terceiro webinar da 9ª edição brasileira do Solve for Tomorrow (assista abaixo), iniciativa global de Cidadania Corporativa da Samsung, com coordenação geral do Cenpec no país.

Sobre o programa
O Solve For Tomorrow é conhecido por estimular alunos(as) e professores(as) da rede pública de ensino a desenvolverem soluções para problemas locais por meio da abordagem STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Desde sua primeira edição no país, o programa já envolveu mais de 168.559 estudantes, 36.420 professores(as) e 6.049 escolas públicas. 

Em sua atual edição, o programa registrou um aumento de 65% no número de alunos(as) inscritos(as) em comparação ao ano anterior. Além disso, em 2022 a iniciativa teve um crescimento de 20% no número de escolas inscritas em comparação a 2021 e obteve inscrições de todos os estados brasileiros, com destaque para São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, que tiveram maior número de projetos registrados.

Espaço Ciência e Diversidade
Intitulado Por que a ciência precisa de diversidade e como melhorar a prática docente?, o webinar marcou também o lançamento do espaço virtual Ciência e Diversidade – nova seção do site do programa, com curadoria de materiais nas áreas das Ciências da Natureza e da Matemática e suas Tecnologias a partir de uma perspectiva das matrizes africanas.

São conteúdos em diversos formatos (textos, vídeos, podcasts e perfis em redes sociais) que podem ser usados por professores e professoras como referência e como recursos em sala de aula. O objetivo, assim, é ajudar os(as) docentes a valorizar a multiplicidade de vozes na produção de conhecimento e levar mais representatividade aos estudantes.

“Inauguramos esse espaço com uma curadoria voltada à educação para as relações étnico-raciais nas áreas das Ciências e da Matemática”, destacou Juliana Gonçalves, técnica de projetos do Cenpec que integra a equipe do Solve for Tomorrow Brasil. “Com isso, podemos nos nutrir não só do pioneirismo ancestral africano, mas também das inovações produzidas no agora e que apontam para o futuro que queremos construir.”

“Para a Samsung, educação atrelada à tecnologia é uma das muitas ferramentas que podem ser usadas para melhorar o sistema educacional e ajudar jovens estudantes de todo o país a exercer sua criatividade e elevar seu potencial de desenvolvimento. O espaço Virtual Ciência e Diversidade é o mais novo deles”, afirma Anna Karina Pinto, diretora de Marketing Corporativo da Samsung Brasil. “O Solve For Tomorrow, assim como outras iniciativas de cidadania corporativa da Samsung, está ligado à visão global de Responsabilidade Social da empresa, ‘Together for Tomorrow! Enabling People’. E é por meio dela que buscamos trazer cada vez mais conteúdos e ferramentas de melhoria para o avanço do ensino no Brasil.”

Veja como foi o webinar
Sonia Guimarães é PhD em Física pela The University Of Manchester Institute Of Science And Technology e tem licenciatura plena em física pela Universidade Federal de São Carlos. Além de ser conhecida por sua produção como pesquisadora e docente no ITA, Sonia luta contra o racismo e a discriminação de gênero.

Durante o webinar, a professora falou sobre sua trajetória escolar e acadêmica e a importância de não desencorajar os estudantes a seguir seus interesses e sonhos – desencorajamento que costuma ser mais direcionado a meninas e pessoas negras, e que Sonia enfrentou em todos os níveis da vida acadêmica. 

Assista à íntegra da gravação do webinar:

Diversidade importa
Elisangela Fernandes, jornalista e pesquisadora que mediou o webinar, ressaltou a importância dos professores e professoras da educação básica para incentivar estudantes a seguirem carreiras em ciência e tecnologia – passo fundamental para que as universidades e os institutos de pesquisa se tornem lugares mais diversos. E diversidade, afinal, é pré-requisito para o desenvolvimento.

“Metade da população brasileira é negra, e metade dessas pessoas são mulheres. Sectarizar e excluir essa parte da população é deixar metade do país subdesenvolvida. Que país consegue alcançar o desenvolvimento dessa forma?”, apontou Sonia Guimarães. 

“Hoje mesmo ouvi que o ITA ‘não é para todos’ e que eu não deveria interpretar isso como exclusão. Mas ao restringir dessa forma, você diminui a possibilidade de desenvolvimento. Os lugares são, sim, para todos os tipos de pessoas, com todas as suas ideias”.

Olhar para a História
Alguns dos destaques do espaço Ciência e Diversidade são os materiais que trazem amostras da produção científica, tecnológica e artística dos povos africanos e seus descendentes – legado fundamental para toda a humanidade, mas ocultado ao longo de séculos.

Expandir esse olhar inclui também a compreensão de que a ciência atribuída aos povos europeus serviu-se do trabalho e da contribuição de pessoas negras. Sonia destaca que essas pessoas não apenas trabalharam – em regime de escravidão – para que os cientistas se dedicassem às suas pesquisas, mas levaram às nações europeias conhecimentos em navegação, produção de tecidos, beneficiamento de ferro e outras tecnologias.

Todos e todas olham para o céu
Durante o webinar, foi exibido o vídeo-depoimento de Eliade Lima, mentora do Solve for Tomorrow Brasil e professora adjunta na área de Licenciatura em Ciências da Natureza na Universidade Federal do Pampa (Unipampa) – uma fala inspiradora sobre o conhecimento como lugar de todos(as):

“E como eram mencionadas e como são mencionadas as pessoas negras na História, no estudo da ciência, da humanidade, na evolução da humanidade? Sempre como um povo escravizado.

O céu chamou atenção apenas do homem branco europeu? Não. Os povos indígenas olharam e olham para o céu, a sua cultura é baseada nisso. O povo negro olhou e olha para o céu e tem a sua cultura também baseada em observar os acontecimentos cósmicos e traçar os seus caminhos. 

Nesse sentido, há extrema necessidade de uma educação descolonizada.” 

Que tal compartilhar esses depoimentos e referências com seus colegas educadores (as) e com seus alunos e alunas? Conheça agora o espaço Ciência e Diversidade.

TAGS: Currículo STEM Ciências da Natureza Diversidade Conhecimento Científico