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O papel da cultura para uma nova educação e o estímulo à Ciência no Brasil

O papel da cultura para uma nova educação e o estímulo à Ciência no Brasil

Alfredo Manevy
13/05/2019
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A educação está sendo repensada em todo o planeta, buscando respostas para novos desafios. O campo da cultura, com o protagonismo juvenil e a inovação que são próprios da produção artística, pode contribuir nessa reflexão.

O campo educacional vem percebendo que é preciso de uma profunda transformação para que a escola pública continue a cumprir um papel essencial na formação planetária de milhões de seres humanos.  

A pergunta para o amanhã seria: como oferecer uma educação para uma sociedade do conhecimento, solidária, tolerante, com apreço pela diversidade e ambientalmente sustentável?

Os fatores que demandam respostas – urgentes - para essa pergunta são conhecidos. Perda de motivação e falta de adesão dos estudantes, envelhecimento da metodologia, o surgimento de outras referências poderosas e influentes que permitem acesso direto à informação, como a internet, sem mediação da escola. O lado positivo e negativo das redes sociais. Some-se, no Brasil, à não consolidação de itens básicos como remuneração adequada de professores. Todos são os fatores (novos ou antigos) que deslocaram a escola do seu tradicional lugar central para uma posição em que se percebe desautorizada, frágil e em crise. Esse contexto convida todos nós, educadores, gestores e cidadãos, a participar dessa transformação.

No contexto nacional, a aprovação de um polêmico marco legal do ensino médio, com uma nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), abriu um processo indefinido de mudança de paradigmas. Ainda é cedo para avaliar o impacto da reforma, mas é certamente importante que valores apregoados, como autonomia e protagonismo, sejam efetivamente tirados do papel. Isso não ocorrerá, porém, por força de lei, mas por mudanças reais nas dinâmicas locais, de um lado, e nas condições materiais e orçamentárias das escolas, de outro. Um ambiente favorável construído a partir de uma gestão democrática, eficiente e capaz de defender a educação brasileira e seu financiamento é pré-requisito básico.  Os itinerários formativos e as áreas mais flexíveis da nova proposta abrem um espaço de reformulação local, algo positivo, mas que só fará sentido se as práticas decisórias locais forem participativas, inovadoras e com grande protagonismo da juventude. Em caso contrário, corre-se o risco de esvaziamento e precarização.

                Nesse contexto, a iniciativa Samsung de lançar a 6ª Edição do Prêmio Respostas para o Amanhã, com coordenação do CENPEC, é de grande importância. No debate sobre a estratégia STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), e sobre outras formas de repensar as estratégias educacionais, realizamos uma reflexão e um chamado a estudantes e professores das escolas públicas no Brasil.

                Para refletir e inspirar, relaciono alguns destaques e desafios

  1. O protagonismo de grupos jovens é muito forte na experiência brasileira recente. Uma nova educação deve partir de relações mais horizontais, que preservem e estimulem o protagonismo que se vê nos grupos culturais nas comunidades, bairros e áreas urbanas e rurais do País. Cito como exemplo os jovens ashaninkas que reflorestam sua terra na Amazônia e veem seu conhecimento ser exportado para outros países. Outro exemplo, próximo a nós, são os saraus e grupos culturais que participam das gestões de equipamentos culturais, como salas de cinema do circuito de salas públicas em São Paulo. Programa que conheço bem e que pude acompanhar no nascimento. Hoje, no Brasil, são milhares de grupos jovens que tem na cultura, arte, educação, estratégias claras de inserção em suas comunidades. Este é o momento da educação formal convidar estes jovens e se inspirar neles para tornar o ambiente escolar mais cativante, desafiador e próximo das realidades locais.

  1. Quando pensamos no Prêmio Respostas para o Amanhã, e estimulamos a inovação e o desenvolvimento científico nas escolas públicas me parece ser muito importante definir de forma ampla o que é tecnologia, incorporando não apenas os artefatos de ponta, mais caros e de difícil acesso, mas as chamadas low-technologies, ou seja, as tecnologias de baixo custo que não dependem de grandes recursos, mas da sensibilidade para problemas locais e do uso criativo, inovador e inteligente dos recursos e informações disponíveis. A tecnologia de captação de água de chuva, muito importante na Amazônia, não é menos importante que invenções que chegam todos os anos para celulares. O Brasil tem inúmeros exemplos de experimento tecnológicos que ajudam a enfrentar questões básicas de saúde, saneamento e de enfrentamento da seca, questões sociais fundamentais do Brasil do século XXI. As escolas públicas podem ser parceiras ativas de soluções de cada comunidade.

  1. Da abordagem STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) talvez o ponto mais relevante a ser aproveitado no Brasil é o desenvolvimento de projetos dos estudantes, estimulando aulas em que o conhecimento venha não apenas de um caráter expositivo, mas a partir de um envolvimento prático dos alunos em suas próprias ideias e iniciativas. Como educador, adoto essa estratégia há alguns anos: invisto nos projetos dos alunos, encorajando a criatividade e iniciativas deles e buscando articular as referências teóricas e pedagógicas com estes projetos. Na área da cultura, onde trabalho e leciono, pode ser mais fácil trabalhar assim. Por que não trazemos para dentro da escola, esse entusiasmo com as redes socias, com a comunicação em vídeo, e esse desejo de contar histórias que pulsa hoje na juventude brasileira? A “divulgação científica” dos projetos podem ocorrer de diferentes formas como podcasts e vídeos.

  1. O resultado da abordagem STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) é sem dúvida muito positivo. Matemática e Ciências da Natureza são fundamentais, assim como a integração de outras disciplinas que articulem a ciências naturais com problemas e desafios locais, na área ambiental, social e cultural.

  1. Outro desafio importante do contexto educacional em que vivemos é o surpreendente descrédito em descobertas científicas. Aqui as redes sociais são parte do problema, cabe a escola, e ao Estado, oferecer informações básicas universais e acesso qualificado de todos a uma formação cidadã. Nesse sentido a escola tem um papel fundamental a desempenhar nesse nivelamento científico da sociedade.

  1. Além do estímulo a novos cientistas e novos conhecimentos é preciso também estimular a divulgação científica entre as gerações mais jovens. Não apenas tendo jovens como consumidores e receptores, mas como divulgadores do conhecimento. De conhecimentos básicos de higiene até informações sobre vacinas podem ser objetos de desafios e projetos audiovisuais e sonoros, como podcasts. Passou da hora de a escola ter uma estratégia clara perante a relação de estudantes com o celular e com a internet, fazendo um uso estratégico dessas ferramentas. É preciso aproveitar a familiaridade dos estudantes para o uso da linguagem audiovisual, sem deixar de aportar conhecimentos gramaticais, de linguagem, que formam uma cidadania na era digital. O que diferencia consumidores de cidadãos. Para isso, é de suma importância estimular que os estudantes ajudem a criar novas formas de comunicação dos achados científicos, novas formas de divulgação científica.

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