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Mariana Lorenzin: inovação na sala de aula

Mariana Lorenzin: inovação na sala de aula

Tamara Castro
03/03/2020
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Professora e especialista Mariana Lorenzin reflete sobre as possibilidades do trabalho por projetos com a integração de conhecimentos de Ciências e Matemática em sala de aula

Articular os conhecimentos das Ciências e Matemática às Tecnologias e à Engenharia: essa é a proposta da abordagem STEM (em inglês, Science, Technology, Engineering and Mathematics). Trata-se de uma tendência inovadora para o ensino e aprendizagem dessas áreas. Com origem nos Estados Unidos, foi adotada em vários países, entre eles o Brasil, o STEM parte de um desafio ou problema real em busca de múltiplas soluções ou respostas construídas de forma colaborativa entre estudantes e professores.

Para ajudar os docentes das áreas de Ciências da Natureza e da Matemática a compreender os princípios dessa abordagem e levá-la a suas práticas em sala de aula, o Respostas para o Amanhã lança agora o Infográfico STEM. Elaborado com a assessoria da professora Mariana Lorenzin, especialista em STEM, este material interativo apresenta de forma clara e sistemática conceitos e práticas relacionadas ao ensino por projetos.

A seguir, leia a entrevista com a professora, bióloga e especialista em teorias de ensino-aprendizagem e EAD, Mariana Lorenzin. 

RESPOSTAS PARA O AMANHÃ: Quais os pontos em comum entre a abordagem STEM e a competência 2 da BNCC, relacionada ao ensino e aprendizagem das Ciências da Natureza? 

Competência específica 2: “Construir e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar decisões éticas e responsáveis” (MEC, BNCC, 2018).

Mariana Lorenzin: O STEM como abordagem para o ensino de Ciências, ao propor a observação do contexto para identificar problemas reais, permite desenvolver o olhar crítico e atento sobre a realidade para interpretar os fatos e fenômenos relacionados a diversas questões da vida, do planeta e, até mesmo do universo. 
Com esse olhar e a capacidade de construir ou utilizar as interpretações de forma crítica, é possível elaborar argumentos para desenvolver pesquisas e soluções com base em propostas éticas e responsáveis.
Dessa forma, a abordagem STEM, assim como a competência 2 de CN da BNCC, busca decisões éticas e responsáveis para intervenção na realidade com base em argumentos consistentes, com base em uma leitura ampla e fundamentada sobre o contexto.

RPA: Uma das características da abordagem STEM é a multiplicidade de caminhos para se encontrar soluções a desafios reais. Quais são as principais condições que o/a professor/a deve observar no trabalho com os estudantes para garantir essa diversidade nos modos de pensar e de buscar respostas a um problema prático?

Mariana Lorenzin: Considerando que são múltiplas as possibilidades de caminhos que podem ser percorridos na construção de soluções aos desafios da realidade, a escuta às diferentes ideias dos estudantes e colegas parceiros é ponto inicial e fundamental nessa trajetória. 
O levantamento e a proposição de ideias de forma livre durante o trabalho em grupo devem ser valorizados e objetos de mediação para se chegar a consensos que atendam à diversidade de repertórios e permitam traçar rotas em prol de uma meta comum.
É importante ressaltar que não se trata de rotas estáticas. Durante o desenvolvimento do projeto, estas devem ser revistas, avaliadas e rediscutidas antes da tomada de decisão das próximas etapas e/ou correção e ajustes no percurso. 
É uma verdadeira transformação do papel do professor, que deixa de ser o transmissor da informação para atuar como mediador de um processo, garantindo o espaço para a construção do conhecimento, a reflexão coletiva e a aprendizagem com sentido no contexto.

RPA: Na apresentação do infográfico, afirma-se: "é preciso criar ambientes e espaços nas escolas para promover o encontro entre pessoas, para que as boas ideias floresçam e se tornem motores da inovação!". Que ações práticas você considera importante ser observadas pelos gestores públicos e escolares nesse sentido? 

Mariana Lorenzin: O encontro entre as pessoas é a chave para as boas ideias! No contexto da escola, reuniões entre gestores e professores, atividades de formação docente sobre temas que emergem na sala de aula podem ser pontos de encontro para a inovação. 
É importante estabelecer horários de encontros sistemáticos entre as pessoas, superando os assuntos de organização da rotina escolar para se tornarem oportunidades de discussão sobre práticas e ideias. 
Assistência a vídeos, palestras, idas a museus, leitura e discussão coletiva de artigos, relatos de experiência, entre outros, são também recursos que podem ser o ponto de partida para a criação compartilhada.
Assim, do ponto de vista da gestão, é importante garantir o espaço para o encontro entre pessoas e propor, por meio de diversas estratégias, temas para a discussão. A partir daí, em um ambiente de confiança e engajamento, basta deixar as ideias surgirem!

RPA: Como o texto do infográfico destaca, no STEM a integração entre disciplinas do conhecimento (inter e transdisciplinaridade) deve ser intencional. Como os professores que desejam trabalhar por projetos podem garantir essa intencionalidade com os estudantes?

Mariana Lorenzin: A intencionalidade das propostas em que a inter e a transdisciplinaridade dão o tom é garantida com o planejamento e, principalmente, o replanejamento constante e coletivo entre os professores e os estudantes envolvidos no projeto em que trabalham.
Em uma lógica disciplinar, as contribuições das disciplinas são colocadas para atender a um objetivo comum. Nesse sentido, é preciso compreender as possibilidades e os limites de cada área e planejar como cada uma delas, com suas especificidades e perspectivas, irá contribuir. No trabalho transdisciplinar, é o projeto que solicita o conhecimento das diferentes áreas. Estas passam a, conjuntamente e sem barreiras, atuar para atender à demanda apresentada.
Dessa forma, uma vez que as relações construídas entre as disciplinas não ocorrem ao acaso, é preciso perceber as contribuições trazidas pelos múltiplos olhares e a abrangência de diversos temas para planejar, estudar, discutir e criar junto com o outro, superando as barreiras entre disciplinas e áreas. 

RPA: Em sua opinião, além do estímulo trazido pela premiação, que outras contribuições o Prêmio Respostas para o Amanhã traz ao ensino e aprendizagem das ciências e da matemática?

Mariana Lorenzin: O Respostas para o Amanhã tem um papel social muito grande por contribuir para a transformação do ensino de Ciências e Matemática nas escolas, possibilitando ao professor buscar novas formas de trabalhar os conceitos em sala de aula, além de mobilizar competências e habilidades dos estudantes durante o desenvolvimento dos projetos. Por meio dessa transformação no ensino e no professor, o impacto sobre os estudantes é ainda maior, uma vez que estes também se transformam. Ao ampliar o olhar para as Ciências, com a construção do pensamento científico de modo crítico e de forma aplicada, o percurso traçado pelo prêmio não só amplia a visão de mundo e mostra possibilidades de intervenção no contexto, como pode inspirar os caminhos do futuro.


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TAGS: Matemática Ciências da Natureza